segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Correntes-5-

Por quê? Por quê fiquei triste?
Essa pergunta idiota me acompanhou na volta pra casa, e na cama, e pela manhã, e no serviço e na faculdade e nos ensaios...
Parece pouca coisa pra me tirar o sono dessa forma né?
Mas não é...
Onde eu menos esperva via a silhueta dele... Me apeguei? Me apaixonei? Está mais para um misto de medo e paixão... Onde será que ele está?
O que será que ele faz quando está longe de mim?
Será que aquele rosto bonito é um disfarce para me matar? Mas, por que alguem me mataria?
Uma semana e um dia se passaram desde então.
Encontrei um bilhete em cima da mesa que ele estava no dia da macarronada. Não sei dizer se era a letra dele ou como ele falava porque nosso contato foi breve em todas as três ocasiões.
O bilhete pedia para que a gerente fosse encontrá-lo no sábado seguinte, estava assinado por Ritchie.
Peguei as filmagens de segurança e o vi deixando o bilhete sobre a mesa.
Meus mistérios seriam finalmente solucionados.
O horário era ás oito da noite próximo ao parque da cidade.
Eu apareci lá ás 19:59 minutos em ponto e ele não chegou.
Acabei esperando até as nove. ouvi um barulho forte vindo do céu, como o farfalhar de uma árvore praiana em dia de ventania.
Tapei os ouvidos e fechei os olhos na tentativa de me proteger do que quer que fosse que estivesse acontecendo. O som finalmente parou depois de alguns segundos e então ele surgiu de um canto escuro, a respiração acelerada e as maçãs do rosto coradas.
-Me desculpe-ele disse-Acabou havendo um imprevisto... Te fiz esperar por muito tempo?
-Só por duas horas, se eu não estivesse tão curiosa, na certa já teria ido embora.
Ele deu um sorriso gentil. Eu retribui o sorriso. Ele me abraçou. Eu abracei de volta, com o coração um pouco acelerado.
-Então? Ritchie né? Diga o que gostaria de conversar...
-Sim, Moça bonita que ainda não me disse o nome, na verdade eu não tenho um assunto específico...
Apenas queria sair com você e sou tímido demais para chegar e falar, "hey moça, quer sair comigo?"...-começou ele todo embaraçado-Mas acho que talvez você aceitasse, afinal está aqui, não é?
Eu sorri.
-Como é seu nome?-ele insistiu.
-Vivienne.
-Lindo nome, acho que todos provavelmente lhe dizem isso.
-É por causa de minha mãe, ela adora roupas dessa marca, dessa estilista e me deu este nome em sua homenagem e eu acabei me apaixonando por moda. História chata de família, não quero te aborrecer com isso.
Por algum motivo, eu estava esperando pra ver até onde esta coisa iria... Lógico que foi uma atitude um tanto irresponsável, eu poderia voltar pra casa num caixão, numa urna de crematório ou não voltar pra casa, mas tinha alguma coisa naquele Ritchie... Alguma coisa...
Caminhamos lado a lado naquela noite escura e sem estrelas, estava calor... Eu não sabia o que perguntar e ele mal falava também, então descobri que ele realmente era tímido e provei minha timidez também. Ele acidentalmente tocou seus gélidos dedos nos meus.
-B-bem no q-que você trabalha?-perguntei, tentando quebrar o silêncio.
-Sou marceneiro.-Disse ele olhando para o céu e apontando para a única estrela brilhante no céu aquela noite.-Está vendo aquela estrela?
-Sim.
-A partir de agora o nome dela é Vivienne.
Eu sorri sem jeito.
-Sabe por que?
-Não.
-Porque quando eu sentir medo da escuridão da noite e do meu coração eu vou olhar para ela e pensar "Vai ficar tudo bem" e vou lembrar desse sorriso lindo e tudo vai ficar bem.
As maçãs do rosto dele mudaram de rosa para carmim bem vivo. Eu achei fofo. Segurei a mão dele sem dizer nada. Voltamos a caminhar.
-Suas mãos são macias.-eu disse.-Nem parecem com mãos de marceneiros.
Ele riu, o som da sua gargalhada era o som mais insano e doce que já ouvira antes, aliás, sua voz toda era assim, rouca, doce e "AHHHRRRGG!!", entende? Cada gesto dele era delicado e suave assim como patinação de gelo artística.
Ele parou com aqueles olhos de fogo olhando para mim e eu fiquei ali sem fazer nada, apenas olhando de volta, com o máximo de desejo e paixão que pude acumular no coração.
Mas então, ele baixou a cabeça e olhou de novo para o céu.
Eu precisava ir... Estava ficando tarde... Perdi um dia de faculdade por aqueles momentos.
Não sabia o que aconteceria...
A cada segundo que eu passei ali, eu desejava mais ainda saber o que o tal destino reservava para nós.
Do nada ele me abraçou e me deu um beijo estalado no rosto, disse que sabia que eu precisava ir.
E então eu fui.
Nós não nos despedimos... Apenas fomos embora.
E eu novamente estava feliz... Só feliz...


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